domingo, 12 de julho de 2009

De corpo e alma

Guia voluntária de corredores com deficiência, Angela atrasa o passo para fazer Jéssica acelerar
Daniela Hirsch Revista Runners World - 04/2009

"Você é a guia da Jéssica?" A pergunta feita à gaúcha Angela Braunstein, de 42 anos, deixa-a feliz. E o motivo é simples: Angela faz parte do grupo de guias voluntários que participam de corridas como acompanhantes de pessoas com necessidades especiais (PNEs). E Jéssica é uma jovem de 18 anos, com deficiência intelectual e física, que adora correr.
O primeiro contato das duas aconteceu quando Angela viu a garota participando de uma prova no centro histórico de São Paulo, em 2007. Jéssica vinha seguida por uma corredora, que a orientava. Angela se interessou pelo trabalho e procurou a Fundação Orsa, responsável pelo treinamento de Jéssica.
Pouco tempo depois, a antiga guia de Jéssica pediu a Angela que assumisse seu lugar. "Poder acompanhá-la é apaixonante. O afeto e o carinho incondicionais que a gente desenvolve me deixam realizada. Nas provas, sempre largamos no meio da multidão e em muitos pontos a Jéssica recebe o apoio de quem assiste ou passa por nós", diz Angela. "É uma menina de ouro, que me dá um orgulho enorme", completa a corredora.
A responsabilidade do guia voluntário se estende além das corridas. "Eu tenho contato com a Jéssica e com a mãe dela quase semanalmente. Criamos um vínculo muito forte." Em dias de prova, a guia chega mais cedo para ajudar a colocar o chip no tênis de Jéssica, levá-la para o ponto de largada e orientá-la sobre como proceder durante a corrida. "A gente deve cuidar para ver onde ela pisa e ficar atenta para que não seja atropelada pelos que vêm atrás e não desviam", afirma a maratonista Angela, que faz seus treinos independentemente dos dias em que Jéssica se exercita sob orientação de uma técnica da Fundação Orsa.
Existem PNEs com diferentes deficiências e ritmos de prova. Como Angela está acostumada a distâncias bem maiores que sua pupila, muitas vezes, depois de deixar Jéssica em casa, dá uma esticadinha até o parque para "soltar" a musculatura. Quando Jéssica não participa de provas, Angela acompanha outros deficientes. "Hoje, o que vale a pena na corrida para mim é correr com a Jéssica aos domingos. Entrei no projeto de corpo e alma e com muito amor."
Quer ajudar?
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O Programa Voluntário Corpore (Corredores Paulistas Reunidos) existe desde 2004. "O objetivo é a inclusão social de atletas com deficiência nas corridas de rua. Temos seis categorias que são premiadas separadamente - deficiente auditivo, visual e intelectual, cadeirante, amputados de membro inferior e outros, afirma o diretor do programa, Mario Rollo. As inscrições da PNE e do guia são cortesia da Corpore.Na semana que antecede a prova, Rollo realiza uma palestra para selecionar os guias. "O corredor deve lembrar que sua função é primordial, mas ele funciona como coadjuvante", diz.
Nem sempre o guia acompanha a mesma pessoa em todas as provas, apesar de isso ser desejável. "Quanto maior a afinidade entre eles, maior a eficiência nas provas." Hoje, o programa tem uma lista de voluntários que estão "na reserva", pois o número de PNEs está menor. "Contamos com o boca-a-boca para divulgar a iniciativa entre os atletas com deficiência. Entre os voluntários, precisamos arrumar guias que sejam rápidos para acompanhar atletas mais velozes", diz Rollo.
CALCE UM ATLETA E FORME UM CAMPEÃO
Você pode dar tênis novos ou usados (em bom estado) para os atletas com deficiência. Muitos deles têm dificuldades financeiras e um tênis adequado é fundamental para prevenir futuros problemas físicos. Confira o programa “Seu tênis não pode parar”, também da Corpore, que aceita doações e as repassa para entidades que trabalham com corredores com necessidades especiais.

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